Fundação Renova

Fundação Renova vai plantar 300 mil mudas em 511 nascentes do Vale do Rio Doce

Publicado em: 11/07/2017 Reflorestamento

Treinamento no Instituto Terra, em Aimorés, teve o objetivo de orientar técnicos sobre metodologia e cuidados que serão adotados

O tratamento adequado das 300 mil mudas que serão plantadas nas primeiras 511 nascentes protegidas pela Fundação Renova, em parceria com o Instituto Terra, foi o foco da troca de saberes promovida na quarta-feira, 5 de julho, em Aimorés, no Vale do Rio Doce. A meta da Fundação, criada para cuidar dos impactos socioambientais e socioeconômicos que surgiram após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em novembro de 2015, é de recuperar 2 mil hectares da área diretamente afetada por rejeitos, promover a restauração florestal de 40 mil hectares de todo o Vale do Rio Doce como medida compensatória e recuperar um total de 5 mil nascentes da região. Incialmente, calcula-se que em todo o processo, serão plantadas cerca de 20 milhões de mudas no prazo estimado de 10 anos.

As primeiras 511 nascentes mapeadas pela Renova, em parceria com o Instituto Terra, criado pelo fotógrafo Sebastião Salgado e sua esposa, Lélia, em Aimorés, já estão protegidas, potencializando o processo de regeneração natural. O próximo passo dos seis técnicos envolvidos no trabalho será o plantio de mudas de espécies nativas que estão sendo produzidas pelo Terra.

Durante o treinamento promovido pelos especialistas da Fundação Renova, do qual também participaram os alunos do curso de formação pós-técnica do Núcleo de Estudos em Restauração Ecossistêmica (Nere), foram expostas as metodologias e cuidados a serem adotados no processo de plantio das mudas: desde o transporte, até a formação dos viveiros temporários, a abertura do berço e adubação. “O olhar técnico é fundamental. Nós trabalhamos com vidas. É impossível prever e antecipar o comportamento de uma vida. Além disso, lidamos com diversas variáveis impossíveis de ser controladas, mas podemos nos preparar para tentar minimizar o impacto delas e fazer o melhor trabalho para garantir a sobrevivência e o crescimento das mudas. Restauração florestal é uma atividade onde nós humanos só ajudamos no processo e nunca seremos protagonistas”, afirma o engenheiro florestal Felipe Tieppo, um dos responsáveis pelos programas de nascentes e restauração florestal da Renova.

Antes de promover o trabalho de plantio, os técnicos terão de visualizar as necessidades de intervenção nas nascentes. Algumas poderão ser apenas cercadas para o processo de regeneração. Mas a maioria vai precisar de intervenções que envolvam o plantio das mudas, seja para o enriquecimento e aumento da diversidade de espécies nativas, seja para a completa restauração florestal.

Depois de definir como será o plantio – fazer o desenho –, devem ser tomados os cuidados para garantir o bom desenvolvimento da muda. O aceiro recomendado é de quatro metros, sendo de dois metros para dentro da cerca e dois metros para fora, para prevenção de incêndios nas nascentes. O controle das formigas cortadeiras, muito agressivas na região, é imprescindível. A roçada, preservando os regenerantes com mais de 30 centímetros, e o coroamento cuidadoso evitará a concorrência de espécies agressivas que podem sufocar a muda. No alinhamento, o pé-de-galinha (feito com madeira, bambu e um nível para medir a inclinação) é necessário para o plantio correto em áreas íngremes (comuns na região). Por fim, o berço deve ter 40cm de largura, por 40cm de profundidade, por 40cm de comprimento e o plantio também não deve dispensar as técnicas de calagem e adubação corretas, sem esquecer o uso do hidrogel, que é um polímero hidroretentor.

Para a diretora-executiva do Instituto Terra, Isabella Salton, as ações da Renova significam uma “nova esperança” para o Rio Doce. Ela é uma entusiasta do trabalho da Fundação, que pode ser feito em apoio ao projeto do próprio Terra, o Olhos d’água, que tem o objetivo de recuperar cerca de 350 mil nascentes de afluentes do Rio Doce. Ela lembra que a região já estava deteriorada mesmo antes da passagem dos rejeitos da barragem de Fundão. “Aqui não existe atividade que seja pequena. Todas são importantes para recuperar uma área muito degradada”.

Tieppo acredita que o treinamento, que também contou com parte prática – técnicos e alunos do Nere simularam o plantio de seis mudas –, foi positivo. “Quem faz acontecer é quem está na ponta”, lembra. “E assim é possível mostrar que a restauração florestal que buscamos promover não é uma mera ação ambiental. Envolve pessoas como protagonistas”, reforça. O próximo passo será produzir um manual para o esclarecimento do processo para os produtores rurais que já assinaram o termo para a proteção das nascentes de suas fazendas. “É possível recuperar, respeitar, focar na água e na produção sem abrir mão da cultura deles”, observa o especialista. No processo, também foi possível verificar os obstáculos que serão enfrentados no caminho.

O técnico do Instituto Terra contratado para o trabalho de proteção das nascentes promovido pela Renova Lucas Matos Martins afirma que esse tipo de treinamento é bom para alinhar os conhecimentos. “Vem com uma carga de sabedoria fundamental.” Ele é engenheiro ambiental e vê esse tipo de iniciativa como uma “união de forças”. “O Rio Doce já estava bem baqueado, em um processo de assoreamento, que antecede a passagem da lama. Ações assim são importantes para executar o que já deviam ter feito há muito tempo”, destaca. Ele cuida de 83 nascentes protegidas pelo programa da Renova.

Jaqueliny Borchat, de 18 anos, é aluna do Nere e sempre foi apaixonada pela área ambiental. Em sua opinião, o trabalho da Renova também promove conscientização do produtor rural para a mudança de hábitos. “Ele pode conhecer novos processos para produção com conservação e melhorar”, diz. Iago da Silva, de 20, seu colega, acredita que o trabalho de proteção de nascentes “é mais do que necessário”.


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